Amar é querer muito a alguém ou a alguma causa e procurar o bem-estar desse alguém ou a frutificação e crescimento dessa causa. Daqui se depreende que o amor está intimamente relacionado com o proporcionar de bem-estar e desenvolvimento, e tem por base o altruísmo.
A posse é diferente. Trata-se do sentimento de manter o outro ou a causa para si, em função da satisfação própria e do desejo de poder, custe o que custar. A posse está, assim, associada ao aniquilamento do outro, ao narcisismo e ao egoísmo.
Dito assim, parece que seria simples não confundir amor e posse, mas a contradição entre amor e posse nem sempre é compreendida nas relações humanas. A satisfação do egoísmo e da vaidade sobrepõe-se, muitas vezes, ao bem-estar do outro e o que prevalece é que aquilo que verdadeiramente ama, um ou ambos os protagonistas da relação, é que o outro os ame.
Esta ideia de que alguém se completa a si próprio com o amor de outro é profundamente perniciosa. Origina relações de dependência que tendem a responsabilizar o outro pela felicidade própria e abre a porta a sentimentos de culpa pela incapacidade de estar à altura dessa tarefa, que parecia tão admirável – ver o outro feliz.
A felicidade de alguém não depende de ninguém que não seja o próprio, mas inclui todos aqueles que se ama. Ao contrário, o desinteresse para com os outros termina em auto-destruição.
O que aprendemos sobre amor com o Yoga?
Começamos por aprender que é preciso apreciar-se para poder amar. Apreciar-se é reconhecer o seu valor, sem vaidades fúteis nem modéstias envergonhadas. É tentar superar-se e melhorar, com a consciência de que não há super-pessoas e fazê-lo, antes de mais, por si mesmo(a). Para poder viver a vida com alegria e entregar-se com amor tem que começar por cultivar em si, e para si, essas qualidades. Viver a responsabilidade de amar alguém passa por fortalecer-se emocionalmente e necessariamente, porque tudo está ligado, física e psicologicamente.
Pense no seu filho(a) pequeno(a) ou na sua mãe ou pai, já idosos. Amá-los exige que, dentro daquilo que lhe é possível, lhes proporcione bem-estar, oferecendo-lhes o que precisam – atenção, afecto, disponibilidade, tempo e, muitas vezes alimento. Tudo isto requer esforço da sua parte, mas a contrapartida de os ver felizes é paga mais que suficiente, porque é aí que reside o seu amor.
Amor é, necessariamente, um sentimento que tem um receptor exterior que valoriza e tem para consigo um sentimento idêntico. Como diz a música Paixão, de Rui Veloso, “não se ama alguém que não ouve a mesma canção”.