A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades“.
Neste sentido, podemos definir doença como ausência de saúde, ou seja, um estado que, ao atingir um indivíduo, provoca distúrbios das funções físicas, mentais e sociais que se manifestam através de um conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. A doença pode ser causada por fatores exógenos (externos, do ambiente) ou endógenos (internos, do próprio organismo). O stress (crónico) é, assim, considerado uma doença, cujo impacto atinge atualmente cerca de 90% da população mundial (OMS).
O stress, per se, não é bom nem mau. É uma resposta fisiológica e comportamental normal a algo que aconteceu ou está para acontecer que nos faz sentir ameaçados ou que, de alguma forma, perturba o nosso equilíbrio. Esta resposta tem um valor, positivo ou negativo, dependente da nossa capacidade interna para enfrentar os diversos acontecimentos da vida. Surge, assim, o conceito de resiliência, isto é, a capacidade individual para lidar com problemas, superar obstáculos e resistir à pressão de situações adversas como, por exemplo, o stress.
Algumas das causas do stress crónico são o excesso de trabalho, a falta de descanso e do número adequado de horas de sono, a disfunção familiar, o desemprego, as crises económicas, o excesso de competitividade, a pressão laboral, a falta de condições de trabalho, entre outras. O stress provoca desequilíbrios no organismo que se refletem no desenvolvimento de diversas doenças, algumas graves e fatais. Além da saúde física, o stress impacta na estabilidade do humor, na produtividade, nas relações afetivas e na qualidade de vida e manifesta-se com alguns sinais e sintomas característicos como altos níveis de ansiedade, perturbações do sono e insónias, irritação constante, falta de concentração, preocupação excessiva, tristeza, sentimento de ausência de auto-eficácia e baixa auto-estima, salientando apenas alguns.
Posto isto, podemos questionarmo-nos como é que o Yoga, um sistema milenar cuja tradição remonta à prístina sabedoria universal nascida a oriente, mais precisamente na antiga Índia, pode ajudar a reduzir o stress e consequentemente a ansiedade com ele relacionada? Certamente, não foi por mero acaso que, em 2016, a UNESCO declarou o Yoga como Património Imaterial da Humanidade, destacando a “unificação da mente, do corpo e da alma para melhorar o bem-estar mental, físico e espiritual das pessoas” que o praticam. A menção específica desta instituição internacional à “prática indiana de Yoga” é sobremaneira importante já que enfatiza o valor deste sistema tal como foi originalmente descrito e não como é conhecido e propagado no mundo ocidental, onde todos os dias aparecem novas vertentes, inventadas para satisfazer um consumo ignorante e ávido pela novidade.
Desde a década de 70 que diversas instituições académicas, entre as quais, pela qualidade dos seus estudos (ensaios clínicos), se destacam a Harvard Medical School ou a Universidade do Utah, têm realizado diversas investigações sobre as consequências e o impacto em perturbações como o stress, a ansiedade e a depressão, da prática regular de yoga, meditação e outras técnicas de relaxamento, como o relaxamento de Schultz. Os objetivos destas investigações são perceber de que modo é que estas práticas podem ser usadas como co-adjuvantes dos tratamentos classicamente usados. Diversas investigações, especificamente em relação à pratica do Yoga, têm concluído que a sua prática regular e continuada ao longo do tempo tem capacidade para modular a resposta fisiológica ao stress e à ansiedade, visto promover a melhoria da frequência cardíaca, a redução da pressão arterial e o aumento da capacidade respiratória.
Outras evidências apontam no sentido da prática do Yoga melhorar de forma significativa a capacidade de concentração e de manutenção da mente no momento presente reduzindo, assim, os níveis de stress e ansiedade relacionados com a preocupação excessiva da mente em acontecimentos futuros e imprevisíveis. Do mesmo modo, ao “obrigar” a mente a estar presente no aqui e agora, ajuda, também, a ultrapassar a tristeza e a melancolia associadas a acontecimentos do passado.
Do ponto de vista meramente empírico, observa-se que as pessoas mais stressadas e, consequentemente, ansiosas, tendem a curvar as áreas dorsal e cervical da coluna, parecendo que carregam “o mundo às suas costas”. Ora, a prática das posturas de yoga está orientada para a abertura do peito, ajudando a contrariar esta tendência corporal. O que o stress e a ansiedade fecham, o yoga abre!
Para finalizar, é importante salientar que o sucesso, para uma gestão eficaz do stress e da ansiedade, exige uma abordagem ampla que englobe várias estratégias, nomeadamente:
- 7 a 8 horas de sono efetivo;
- Alimentação e nutrição adequadas;
- Tempo de lazer de qualidade;
- Práticas meditativas diárias (Yoga, mindfulness/meditação);
- Exercício físico moderado (5 vezes por semana: yoga (prática de posturas, exercícios respiratórios e meditação), caminhada, bicicleta, …);
- Aprendizagem de algo novo (instrumento musical, língua estrangeira, jardinagem, pintura, …);
- Acompanhamento técnico-profissional, sempre que necessário.
Bibliografia:
- Effects of Yoga Versus Walking on Mood, Anxiety, and Brain GABA Levels: A Randomized Controlled MRS Study. Chris C. Streeter (et. Al). The Journal of Alternative and Complementary Medicine, USA (2010)
- Yoga Asana Sessions Increase Brain GABA Levels: A Pilot Study. Chris C. Streeter (et. Al). The Journal of Alternative and Complementary Medicine. May 2007
- Yoga clinical research review. Tiffany Field. Touch Research Institute, University of Miami School of Medicine, USA (2010)
- Treatment of Chronic Insomnia with Yoga: A Preliminary Study with Sleep–Wake Diaries. Khalsa, S.B.S. Appl Psychophysiol Biofeedback. HMS (2004)
- Yoga for Anxiety: A Systematic Review of the Research. Kirkwood G, et al. British Journal of Sports Medicine (Dec. 2005): Vol. 39, Nº. 12.
- Yoga for Depression: The Research Evidence. Pilkington K, et al. Journal of Affective Disorders (Dec. 2005): Vol. 89, No. 1-3.
Nota:
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